Esse é o título do último editorial de uma das revistas médicas mais conceituadas do mundo, a The Annals of Internal Medicine. Os autores chamam a atenção para o fato de que a maioria dos americanos consome muito mais sódio do que seria recomendado, alcançando, nos últimos 30 anos, mais que o dobro das recomendações.
O consumo excessivo de sódio aumenta a pressão arterial e a cada 20mmHg de aumento acima de 115mmHg representa o dobro na incidência de infartos e derrames, que são a primeira e a terceira causas de morte, nos EUA, respectivamente. O aumento da incidência de infartos e derrames ocorre em elevações muito pequenas na pressão arterial, abaixo até dos níveis pressóricos para os quais se inicia o tratamento com medicamentos. Nos EUA, mais de 100.000 mortes anuais são atribuídas ao consumo excessivo de sódio.
“As necessidades diárias de sal estão relacionadas às necessidades de sódio e elas são facilmente alcançadas sem a adição de sal no preparo dos alimentos, pois uma dieta normal já contempla os 500mg de sódio necessários ao organismo, encontrados naturalmente nos alimentos”, explica a endocrinologista Ellen Simone Paiva, diretora do Citen, Centro Integrado de Terapia Nutricional.
Não queremos dizer com isso que devemos comer sem sal. Sabemos do maravilhoso sabor que ele incorpora aos alimentos. Mas o brasileiro tem exagerado, pois de acordo com o Ministério da Saúde, em seu Guia Alimentar de 2006, estamos ingerindo cerca de 30 gramas de sal por dia (12gramas de sódio), quando deveríamos ingerir, no máximo, 12 gramas de sal (5 gramas de sódio).
“É importante saber que praticamente todos os alimentos industrializados contêm sódio. Do pão integral ao refrigerante e até mesmo os sucos artificiais em pó. Os campeões são os embutidos – presunto, salame, mortadela, salsicha – e defumados, os caldos concentrados e temperos prontos, as sopas instantâneas, os salgadinhos industrializados em pacotes, os queijos amarelos, os pratos prontos congelados e as conservas”, diz a endocrinologista.
Como enfrentar o problema?
Políticas de saúde que intervêm em grandes grupos populacionais são mais eficazes do que atitudes isoladas e orientações individuais. Exemplos bem sucedidos dessas políticas têm reduzido a mortalidade em acidentes automobilísticos através da obrigatoriedade do uso do cinto de segurança e a mortalidade por doenças pulmonares e cardiovasculares através da proibição do fumo em locais públicos.
“Com relação ao consumo de sódio, atitudes efetivas por meio de políticas governamentais podem reduzir os custos da saúde e salvar vidas. Essa foi a conclusão de uma recente análise de pesquisadores, baseada no fato de que a maioria dos americanos consome muitos alimentos processados e industrializados, onde o sódio é encontrado em grande quantidade. Portanto, seria impossível para um cidadão norte-americano ajustar-se sozinho à quantidade ideal de consumo de sódio, sem alterações legais nas quantidades de sódio desses alimentos”, explica a médica.
Em 2003, o Reino Unido iniciou uma cruzada para reduzir, entre 20 e 30%, o conteúdo de sódio dos alimentos processados e empacotados. O País tem conseguido resultados surpreendentes e já estabeleceu metas ousadas: reduzir em até 40% a quantidade de sódio dos alimentos industrializados, até o ano de 2012. Países como o Japão e a Finlândia já iniciaram programas semelhantes. Irlanda, Austrália e Canadá já estão adotando medidas semelhantes.
Diante dos resultados ingleses, os pesquisadores americanos calcularam que uma redução de 9,5% na ingestão de sódio, semelhante ao que vem ocorrendo no Reino Unido, poderia evitar centenas de milhares de infartos e derrames e economizar mais de 32 bilhões de dólares em tratamentos de saúde. Um programa dessa magnitude seria mais econômico do que pagar os custos de medicamentos hipotensores para a população de hipertensos em desenvolvimento.
Em 2009, o Congresso Americano solicitou ao CDC – Centro de Controle e Prevenção de Doenças – que trabalhasse com o Instituto de Medicina para desenvolverem estratégias para se alcançar uma redução na quantidade de sal dos alimentos industrializados nos EUA. As estratégias deverão incluir o desenvolvimento de novos produtos, a reformulação dos produtos que já estão no mercado, intervenções em saúde pública, educação em saúde, além de uma legislação apropriada ao caso, com mecanismos regulatórios mais rígidos.
Recentemente, uma aliança entre organizações de saúde e grandes cidades, lideradas por Nova York, iniciaram uma campanha pela redução de 20% na ingestão de sal, pelos americanos, em 5 anos, e de 40%, em 10 anos. Para atingir estas metas, o conteúdo de sódio dos alimentos processados e empacotados deverá ser reduzido em 25%, em 5 anos, e em 50%, em 10 anos. Por incrível que possa parecer, muitas indústrias alimentícias já se adequaram às normas e a maioria dos alimentos à venda já atende às novas determinações.
“Exemplos de países que modernizam sua indústria de alimentos em prol da saúde das pessoas devem ser seguidos por todos. O Brasil também deve pensar a respeito e se mobilizar”, defende a endocrinologista Ellen Simone Paiva.
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